Gordofobia: Explorando um Preconceito Complexo na Sociedade

Gordofobia? Nunca tive!!!

Pessoas apontando o o dedo para uma pessoa gorda, demonstração de gordofobia

Hoje vamos falar sobre GORDOFOBIA. Outro dia, vi um post na famigerada rede social o REDDIT. Onde a pessoa reclamava das respostas grosseiras que uma outra pessoa fez a ele, ao tentar fazer uma pequena gentileza.

O assunto ocorreu quando uma pessoa sentada no ônibus, vê outra em pé e resolve ceder seu assento outra. Proferindo a seguinte frase: “olha eu sei que o assento não é especial, mas eu cedo para você caso queira”. Ela então, ficou extremamente brava e teve atitudes grosseiras com ele.

Entretanto o problema ocorre, quando ele vai na internet “desabafar” sobre o ocorrido. No desabafo, ele profere xingamentos tais como: “só muito acima do peso ideal” ou “visivelmente obesa”. Ao todo foram diversos xingamento e o desfecho se dá de forma nitidamente agressiva com a pessoa.

Notem, eu não quero me prender aos motivos pelos quais levou a pessoa a se sentir constrangida pelo ocorrido. Ou então os motivos que levaram o dono do post a sentir-se extremamente ofendido pelo ocorrido.

O fato é que o usuário no desabafo, despejou uma chuva de xingamentos para esta mulher. Dos quais, citarei alguns: “ser humano de 800 mil toneladas”, “merecia uma boa depreciação da própria aparência”, “700 metros de circunferência”, “barriga mastodôntica”.

Ao final do texto, ele se diz não ser gordofóbico e que “militância é foda”! Pois a pessoa “grosseira” em questão, o acusou de gordofobia.

Destrinchando o problema da gordofobia

Uma grande problemáticas que podemos falar, é sobre os transtornos que advém da imagem corporal. Porém, não falarei disso hoje. Pois o texto ficaria deveras longo para a proposta, então deixarei então para outra ocasião. Aqui especificamente quero me ater à problemática da gordofobia.

Quero ponderar aqui sobre os alguns dos aspectos que irão nortear a construção da gordofobia. E, como ela é difícil de se comparar aos outros preconceitos “tradicionais” como por exemplo o racismo.

Por razões obvias, racismo e fobias são coisas distintas, porém, o comparativo é válido para a compressão dos temas.

A visão da psicologia sobre as fobias

fobia

Um tipo de transtorno de ansiedade caracterizado por um medo intenso e irracional de um objeto ou situação específica. O medo é tão intenso que pode levar à evitação do objeto ou situação fóbica. Mesmo que isso signifique prejudicar a vida da pessoa.

Portanto, para a psicologia ela só é caracterizada como tal a partir do momento em que ela afeta as suas condições de vivência. Aqui, eu preciso introduzir uma virgula a mais nesse trecho que é o seguinte: “afeta as suas condições normais de vivência com a SOCIEDADE”.

Dessa maneira, o termo fica melhor empregado para esta situação. E, isso é apenas uma interpretação minha para que possamos analisar com maiores detalhes a dificuldade de se compreender à gordofobia como sendo um problema REAL e não somente uma questão ligada à “militância”

O grande problema de não enxergarmos a gordofobia como um PRECONCEITO, a sua gênese está acrescida do termo “fobia”. Na qual, a população em geral associa isso às fobias clássicas: como altura, aranhas e baratas e afins.

A visão da sociologia

preconceito

Retorno aqui ao conceito em que a sociologia para o preconceito. É definido como um julgamento ou opinião formado sobre alguém ou algo antes de qualquer conhecimento ou experiência direta. É um juízo feito com base em características externas, como raça, etnia, religião, sexo, orientação sexual, etc. Sem considerar as características individuais da pessoa ou do grupo

Sendo assim, o gordofóbico não se entende, ou melhor, se incluir como preconceituoso. pois, ele NÃO SE VÊ COM MEDO DE GORDOS. Sim, pode soar estranho, mas é a mais pura verdade, e a gordofobia é tão estrutural em nossa sociedade como o machismo está para as mulheres.

Vamos mudar os arquétipos!

Nesse meu breve relato, gostaria de fazer uma pequena reflexão sobre os xingamentos que ele proferiu (mesmo que, nas palavras dele “foram em pensamentos”) e, reconstruir outros arquétipos para as mesmas enunciações.

A frase “ela era visivelmente obesa” pode muito bem ser reconstruída para:

  • “aquele cara visivelmente japonês”;
  • “aquela mulher visivelmente preta”;

barriga mastodôntica” para:

  • “aquele judeu de nariz mastodôntico”;

muito babaca da minha parte, assumir só porque ela era gorda” para:

  • “muito babaca da minha parte assumir só porque ela era preta”;

Veja o contexto original permaneceu, mudando apenas o sujeito das frases.

Dessa maneira, se soou preconceituoso e racista, é porque, é sim PRECONCEITUOSO. Entretanto, como estamos falando de algo velado isso fica muito difícil de se formalizar como sendo algo NÃO NATURAL. Tal associação é de difícil compreensão e por isso, exige um trabalho de reflexão constante de nossa sociedade para que não “encapsularmos” esses conceitos como sendo somente pequenas “bobeiras do cotidiano”; conforme outro usuário disse no mesmo post: “associar holocausto com gordo é foda”. Claro que, eu não quero trazer pesos e medidas para os diversos problemas e camadas de preconceitos da sociedade. Mas devemos entender que esse é uma das gêneses do preconceito. Onde eu posso me dar a liberdade de falar depressivamente sob um campo sem que eu não seja atingido

A obesidade não é uma escolha.

Bom voltando ao texto, a obesidade é um problema multifatorial e falar sobre ele sempre é complexo nem de fácil exaustão.

Reforço aqui que a obesidade não é um problema só do indivíduo, mas sim de toda a sociedade. Sim a obesidade é um problema social e hoje está mais do que provado que, são milhares os fatores que se inserirão em cada indivíduo que o fará ser um obeso. Portanto, aquela fala esdruxula que muitos ainda profetizam “só é gordo quem quer!” ou então “o cara não toma vergonha na cara!” além de ser errada, é simplificadora de processos e coloca todo a responsabilidade do problema em cima de uma pessoa só.

A gênese da obesidade está inserida em tudo em nossa própria sociedade, não somente nas comidas, mas também no nosso próprio DNA. Pois como seres humanos fomos pensados geneticamente falando para armazenar gordura, afinal a comida à 10 milhões de anos atrás era extremamente difícil de ser obtida, em comparação com os dias atuais, onde só precisamos levantar da poltrona e pegar um hotpocket e colocá-lo no micro-ondas.

Em se tratando de alimentos, se eu for me aprofundar esse texto não acaba hoje. Basta irmos ao mercado e compararmos um hambúrguer com 100g de peito de frango: qual é mais nutritivo? Qual é mais fácil de se fazer? Qual é mais barato de ser adquirido?

Ainda assim, o assunto gordofobia não se esgota.

Pois ainda temos a inserção de culturas diferentes, mídia, hábitos alimentares distintos para cada sociedade, genética específica, políticas públicas (ou melhor, as não políticas públicas sobre o assunto), marcas específicas que prometem mundos e fundos, marcas de alimentos que dizem que você é mais feliz se comer margarina Qually com sua família e muito mais. Tudo isso, são poucos exemplos que podemos conjecturar na construção de uma sociedade em que as pessoas irão ter comportamentos nos quais irá propiciar diretamente o aumento do peso. Para isso, chamamos de ambientes OBESOGÊNICOS.

Assim, como disse o assunto é longo e demanda uma linha de raciocino grande. E extremamente necessário, pois a quantidade de pessoas normalizando a gordofobia é gigante.

Espero que ao lerem esse texto, que pelo menos reflitam sobre o assunto e pensem nele com outros olhos.

Ao vermos uma pessoa que você acha gorda na rua (independente é ou não é), reflita e pense a quão problemática é a luta dessa pessoa na própria sociedade em que ela vive. Reflita, como foi o acordar dela pela manhã e quantos olhares negativos ela recebeu naquele dia. A pessoa que sofre preconceito (seja ele qual for), leva sempre uma vida mais dura e está sempre muito mais sensível as escutas e olhares da sociedade.

O que Will Smith em “Um maluco no pedaço” tem a nos ensinar.

Finalizo esse texto sobre Will Smith em um maluco do pedaço explicando como funciona o racismo. Em um dado momento, Carlton indaga que o sistema funciona pois ele foi detido em uma via por andar em baixa velocidade.

Então Carlton pergunta ao pai:

“Pai, se fosse um policial e visse um carro a 10km/h, você iria pará-lo?”

O pai de Carlton responde: “Eu me fiz essa pergunta a primeira vez em que fui parado.”

Quantas vezes será que essa pessoa já se fez essa mesma pergunta?

Quantas vezes, ela ouviu essa mesma frase: “olha eu sei que o assento não é especial, mas eu cedo para você caso queira.”

Tenho certeza que essa mulher já perdeu a conta de quantas vezes foi “visivelmente notada como obesa”

Como disse, o assunto é longo e jamais será minha intensão, esgotá-lo de maneira tão simples. Aliás, nem simples é, pois, ele demanda um esforço epistemológico para que consigamos “passear” por diversas áreas afim de compreendermos melhor.


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jeanphillipe

Nutricionista, gastrônomo e chefe de cozinha. ALIMENTO NÃO ENGORDA. O que engorda são os excessos.

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