Para Além das Calorias: Repensando a Alimentação

Alimentação saudável vai além das calorias

Esse texto sobre calorias, foi elaborado com base no meu novo episódio do PodCast “Comida Crua”, Nutrição para ALÉM da contagem CALÓRICA. Caso queria ouvir na integra:

“Comida Crua” podcast no Spotify – Nutrição para ALÉM da contagem de CALORIAS

“Comida Crua” podcast no yOUTUBE – Nutrição para ALÉM da contagem de CALORIAS

Outro dia, vi uma nutricionista aconselhando cautela ao comer certos tipos de frutas. Pois, algumas delas possuem muitas calorias e, consequentemente, podem causar ganho de peso. Também tenho notado com mais frequência profissionais recomendando cardápios de emagrecimento com “x” calorias. Acho que, antes de nos preocuparmos com calorias, precisamos rever todos os nossos pensamentos sobre estilo de vida.

Mas afinal, o que são calorias e o qual sua importância na dieta?

Calorias é a unidade de medida de energia, usadas principalmente para quantificar a quantidade de energia contida em um alimento pode fornecer ao corpo. Ela é a junção dos macronutrientes carboidratos, proteínas e lipídios (ou gorduras).

A contagem de calorias ganhou mais destaque depois da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, uma grande parcela da população mundial estava enfrentando problemas de desnutrição e fome. Portanto, foram feitos vários esforços para se obter formas mais precisas de entender qual era o nosso gasto energético total

Nessa mesma época, profundos investimentos também foram feitos para maximizar a produção das principais plantas comestíveis e das melhores matrizes energéticas. Visando potencializar ao máximo a escala de plantio. Sim, estou me referindo à Revolução Verde.

Nesse período, era de suma importância desenvolver métodos científicos para entender o funcionamento do dispêndio energético do ser humano. Questões como: “Quanta energia consumimos enquanto dormimos?” ou “Qual é o nosso consumo total de energia ao longo de um dia?” foram rapidamente respondidas e amplamente utilizadas pela comunidade científica durante décadas para lidar com uma variedade de casos.

Afinal, qual a importância disso?

E na verdade, ainda utilizamos hoje em dia. Como mencionei, a contagem de calorias é importante para muitos tratamentos e pacientes. Décadas se passaram, e o perfil corporal da população mundial sofreu significativas mudanças. De uma população mundial que sofria com a fome, passamos para uma com altos índices de obesidade.

O que outrora era usada a finco em diversos segmentos da medicina e nutrição passou também a ser utilizada como uma medida de “precisão” (sim, entre aspas), para auxiliar na perda de peso das pessoas. Afinal, todas as métricas estão ali prontas para serem utilizadas.

De certo modo, a contagem calórica sempre teve uma importância astronômica na nutrição esportiva. Quem não se lembra da famosa dieta de Michael Phelps, com 12.000 calorias?

A resposta é bem mais simples do que parece. Atletas não podem perder peso em hipótese nenhuma. Quando um atleta perde peso, ele possivelmente estará perdendo massa magra junto. O que é uma das piores coisas que pode acontecer com um atleta. Por esse motivo, a contagem calórica ganhou muito destaque entre os atletas, acima de tudo pela “precisão” (sim, com aspas).

Mas por que aspas?

Geneticamente falando, quer você, leitor, queira ou não, os seres humanos não foram feitos para emagrecer. Possuímos um vasto e complexo sistema de regulação de peso que não favorece a perda de peso. Mas sim a manutenção do aumento do peso. Embora isso tenha sido de grande importância há cerca de 100 milhões de anos, hoje, com toda a facilidade industrializada na obtenção dos alimentos, isso se tornou um grande problema. A partir do momento em que engordamos, nosso corpo, em algum momento, acha que isso é bom e tentará ao máximo possível manter esse peso.

Mais importante que procurarmos coelho em cartola é entendermos que O NOSSO ESTILO DE VIDA, é uma das piores problemáticas e a que mais nos faz engordar. Hoje, tudo em nossa sociedade nos faz engordar. Somos feitos para que tenhamos todos os problemas de obesidade.

É importante reconhecer engordar não é apenas uma questão de calorias consumidas versus calorias queimadas. Embora a ingestão calórica seja um fator importante, o contexto em que os alimentos são consumidos e a qualidade desses alimentos desempenham um papel crucial em nossa saúde geral.

Desafios da Alimentação na Sociedade Moderna

Nossa sociedade caminha para um complexo estilo de vida em que somos compelidos a comer de forma desordenada e sem critérios de escolha. Então, um dos principais vilões dos nossos corpos é a nossa própria sociedade que nós mesmos criamos. São ambientes completamente “obesogênicos” e que fazem de tudo para “puxar” a nossa conta calórica para cima.

Somos constantemente bombardeados com alimentos altamente processados, ricos em gordura, açúcar e sal. Esses alimentos são convenientes, acessíveis e muitas vezes irresistíveis devido aos seus sabores intensos e à manipulação química que os torna altamente palatáveis. No entanto, eles frequentemente são desprovidos de balanceamento energético e muita das vezes seu processo de refino é tamanho que se perde muitos componentes essenciais para a nossa saúde.

Porém, o problema são as frutas. Olha, cuidado com o abacate, pois ele engorda! Mas quando foi a última vez que você comeu um? Quantos abacates você come por dia? E qual foi a última vez que você colheu uma fruta?

Vou mais além. Qual foi a última vez que você colheu alguma fruta, verdura ou legume para consumo próprio? Se a resposta foi nunca ou faz muito tempo, você é mais um dos afetados pela sociedade do consumo, onde o importante é o poder de compra e não o produto em si.

Hoje é muito mais fácil criticarmos o valor calórico das comidas sem criticarmos as relações que mantemos com o alimento. Será que estamos em uma relação saudável com a comida?

Hoje, nosso estilo de vida moderno

Contribui para um pensamento transtornado sobre a comida e nessa relação com ela. A sociedade nos impõe uma forma de pensamento nem um pouco favorável ao saudável. Jornadas de trabalhos incessantes, dias angustiantes, horas a fio no trânsito, horas de lazer reduzidas, tudo culmina para uma infelicidade coletiva. Onde o homem angustiado busca desesperadamente uma solução para seus problemas, e uma dessas soluções é a comida.

Uma cultura que valoriza o consumo excessivo torna difícil para as pessoas adotem hábitos alimentares saudáveis. Na comida, encontramos todos os anseios de um prazer pronto para ser desperto. O ato de comer provém um prazer imediato e intenso, pronto para acalentar o desespero de qualquer pessoa em desespero. É preciso ter crítica sobre o que comemos e internalizamos nossas emoções para entendermos que a comida não deve ser usada como depósito de emoções.

A sua refeição de “x” calorias, “perfeita para você emagrecer”

Cada vez mais eu vejo no Instagram ou em outras redes sociais, uma maior quantidade de nutricionista falando sobre calorias isso e calorias aquilo.

De fato, saber sobre a caloria dos alimentos é importante, mas não é tudo. Primeiramente, porque para você saber de calorias, a pessoa precisa entender o que elas significam dentro de um contexto do alimento e dentro do contexto da preparação como um todo. Isso quer dizer que a gente tem que, antes de começar a “soltar” um monte “números calóricos”, fazer com que a população entenda qual é a problemática do alimento em si e não a problemática das calorias por si. Portanto, conhecer o valor calórico de um alimento não é suficiente por si só.

Pois o leigo não tem a compreensão total sobre o que são calorias. Eles sabem que elas existem e que são importantes para entender se um alimento engorda ou não. Mas é aí que começa o problema. Porque muitas das vezes, não se consegue julgar de forma apropriada se essa quantidade de calorias está adequada ao alimento.

É importante ressaltar que não devemos demonizar nenhum alimento específico, em vez disso, devemos concentrar em cultivar uma relação saudável com a comida e fazer escolhas alimentares conscientes.

Mais importante do que ficar contando calorias é o apelo do seu alimento, se ele contém uma quantidade muito grande de gordura saturada ou se contém uma quantidade muito grande de açúcares. Passamos muito tempo mostrando calorias e mais calorias para as pessoas e não criticamos se elas comem frutas ou coisas saudáveis adequadamente.

A crescente obsessão pelas Calorias

É preocupante ver uma crescente obsessão com as calorias, especialmente nas redes sociais e na mídia em geral. Embora seja útil ter uma compreensão geral do conteúdo calórico dos alimentos, essa ênfase excessiva pode levar a uma visão simplificada e muitas vezes distorcida da alimentação saudável.

Por falar em alimentação saudável, será que você, leitor, come a quantidade mínima de fibras por dia? Provavelmente não, porque para atingir, é um pouco difícil e necessita de muita verdura, frutas e legumes. E ainda assim, às vezes a gente precisa aumentar introduzindo aveia e outros alimentos fontes em fibra, porque hoje a nossa alimentação é muito pobre em alimentos integrais.

O problema são as calorias! Contudo, não são elas que causam morte, ganho de peso ou malefícios. Esses resultados são ocasionados pelos excessos. Desperdiçamos um tempo absurdo culpando as calorias.

Será que nossa alimentação está ideal?

Será que não seria melhor, ao invés de antes de falarmos em caloria, pensarmos se nosso público-alvo está comendo adequadamente? Eu acho que isso é o mais importante antes de qualquer assunto sobre caloria. Muitas vezes, falta conhecimento básico sobre nutrição e saúde, o que pode levar a hábitos alimentares prejudiciais e desequilibrados. Portanto, é essencial fornecer informações claras e acessíveis sobre nutrição e promover uma compreensão mais profunda dos princípios básicos de uma dieta saudável.

Observo muitos nutricionistas e outros profissionais “jogando calorias aos céus” para as pessoas pegarem, como se elas fossem entender com exatidão toda a complexidade da alimentação. Quando um profissional compartilha informações sobre alimentação em público, é essencial reconhecer que o espectador pode não ter um conhecimento aprofundado sobre o assunto. Portanto, devemos nos esforçar para comunicar de forma clara e acessível, evitando vieses de interpretação. Focar exclusivamente nas calorias é grande viés que podemos ter na alimentação.

Como mencionei, as calorias são importantes para nutricionistas e outros profissionais entenderem a composição dos alimentos e como podem afetar o paciente, dependendo da situação específica. No entanto, é importante ressaltar que as calorias não devem ser o único critério orientador para a população em geral, pois muitas vezes as pessoas não têm um conhecimento preciso sobre a nutrição.

Falhamos no básico

No entanto, ainda falhamos no básico, pois é mais importante do que discutir calorias é fazer com que a população compreenda a diferença entre alimentos saudáveis e prejudiciais. Um alimento industrializado nunca será tão benéfico quanto um alimento fresco, natural e preparado na hora. Por exemplo, ao comparar uma farofa industrializada com uma caseira, a diferença é notável. A versão industrializada contém uma quantidade significativa de aditivos para garantir uma vida útil prolongada e, consequentemente, uma aparência e sabor mais atrativos. No entanto, o público muitas vezes opta pela conveniência da farofa industrializada, sem considerar os benefícios nutricionais e o sabor autêntico da versão caseira

Portanto, antes de falarmos em calorias, devemos, sumariamente, fazer com que a nossa população entenda o que é um alimento bom e um alimento ruim. Mostrar que a sociedade está doente e a nossa própria forma de trabalhar. Ou seja, a nossa própria maneira como conduzimos o nosso trabalho, é doentia e pró-obesa. Dessa maneira, a contagem de calorias fica um pouco irrisória ou pífia, como eu falei. Calorias são importantes, mas antes disso é preciso fazer o básico, que não está sendo feito.

Fica aqui o meu apelo.

Ao invés de gastarmos tempo falando apenas de calorias, vamos direcionar nossos esforços para educar as pessoas sobre escolhas alimentares saudáveis. Devemos promover a compreensão que não é necessário consumir de tudo. Não precisamos gostar de todos os tipos de alimentos. Mas é importante entender que, se você não consumir o mínimo necessário que o seu corpo precisa, vai adoecer. É essencial diferenciar o papel do nutricionista, que enfatiza a prevenção, do médico, que muitas vezes age de forma reativa. Devemos encarar a alimentação não como uma questão imediata, mas sim como um investimento em nossa saúde a longo prazo. Comer bem é cuidar de si mesmo, entendendo as necessidades individuais e garantindo a ingestão adequada de nutrientes para a nossa saúde.

Portanto, se você ver um nutricionista na internet esbravejando Calorias, dizendo que você precisa contar calorias acima de tudo. Fuja, pois, você está lidando com um profissional imediatista que não quer ter a menor


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A VIDA LEVE foi idealizada com o propósito de fornecer serviços especializados adaptados às necessidades específicas de cada paciente. Propomos um atendimento humanizado, e focado no tratamento individual e único para cada paciente.

Entendemos que cada pessoa é única, e neste contexto priorizamos a história individual. Assim, iremos tratar o paciente em toda a etapa de sua terapia, conhecendo e entendo cada processo do tratamento.

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jeanphillipe

Nutricionista, gastrônomo e chefe de cozinha. ALIMENTO NÃO ENGORDA. O que engorda são os excessos.

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